Calf Note #242 – Vitamina C em dietas para bezerros

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Autor: Jim Quigley

Traduzido por: Ana Luiza Resende e Rafael Azevedo

Introdução 

A publicação da 8ª edição de The Nutrient Requirements of Dairy Cattle pelas Academias Nacionais de Ciência, Engenharia e Medicina (NASEM, 2021) representou grande avanço em nossa compreensão das necessidades e do suprimento de nutrientes em bezerros. Mais de 20 anos de pesquisa foram interpretados e incorporados a essas novas recomendações. Além dos novos modelos de requisitos de energia e proteína, o Comitê da NASEM revisou os requisitos de vitaminas e minerais para bezerros.

O tópico deste Calf Notes é a recomendação (ou falta dela) de vitamina C para bezerros. Vamos começar revisando algumas pesquisas publicadas sobre o fornecimento de vitamina C.

Vitamina C e resposta imunológica

A vitamina C (ácido ascórbico) é vitamina solúvel em água que desempenha funções importantes no corpo, mas talvez nenhuma seja tão importante quanto a de servir como antioxidante para proteger as células contra danos oxidativos. Há centenas de substâncias que atuam como antioxidantes no corpo. As mais conhecidas são a vitamina C, a vitamina E, o β-caroteno e outros carotenoides relacionados, juntamente com os minerais selênio e manganês. A eles se juntam a glutationa, a coenzima Q10, o ácido lipóico, os flavonoides, os fenóis, os polifenóis, os fitoestrógenos e muitos outros. A maioria deles ocorre naturalmente e é provável que sua presença nos alimentos evite a oxidação ou sirva como defesa natural contra o ambiente local (Universidade de Harvard, Nutrition Source).

A vitamina C é sintetizada a partir da D-glucose ou da D-galactose por meio da via do ácido glucurônico no fígado. O ácido L-ascórbico presente na dieta dos bovinos é destruído pelos microrganismos do rúmen, tornando-os dependentes da síntese endógena. Presumimos que a síntese endógena seja suficiente para atender às necessidades fisiológicas. 

O papel da vitamina C no desempenho e na saúde dos bezerros tem sido estudado há muitos anos. Por exemplo, Lundquist e Phillips, em 1943, relataram que a concentração plasmática de vitamina C no bezerro recém-nascido é cerca de 2 vezes maior do que as concentrações normais, mas diminui com o tempo após o nascimento (Figura 1). As concentrações diminuem após o nascimento e a síntese de vitamina C no bezerro começa em cerca de 2 ou 3 semanas (Lundquist e Phillips, 1943).

Figura 1. Concentrações de vitamina C em bezerros recém-nascidos. De Lundquist e Phillips (1943).

Matsui (2012) resumiu a literatura existente sobre vitamina C em bezerros até aproximadamente 30 dias de idade e concluiu que a vitamina C suplementar geralmente melhora a resistência a doenças e sugeriu que a vitamina C é condicionalmente essencial, particularmente durante períodos de estresse. A concentração de vitamina C é aproximadamente duas vezes maior no colostro do que no leite e os bezerros alimentados com colostro normalmente têm concentrações circulantes mais altas de vitamina C, embora essas concentrações diminuam rapidamente após o nascimento até aproximadamente 21 dias de idade (Lundquist e Phillips, 1943; Hidiroglou et al., 1995).

Foi relatado que a suplementação de vitamina C previne a diarreia em bezerros (Cummins e Brunner, 1989; Seifi et al.,1996; Sahinduran e Albay, 2004) ou melhora os índices de doenças, como descargas oculares e nasais de bezerros doentes (Eicher-Pruitt et al., 1992). Entretanto, nem o NRC de 2001 nem o NASEM de 2021 recomendaram a suplementação rotineira de vitamina C nas dietas de bezerros. Como a vitamina C tem – pelo menos em muitos casos – demonstrado apoiar o estado imunológico dos bezerros, particularmente antes das 3 semanas de idade, recomenda-se seu uso no sucedâneo destinado a bezerros estressados ou em suplementos para apoiar a saúde imunológica no início da vida. As taxas de inclusão avaliadas em pesquisas publicadas foram: 1.000 mg 3x/d durante a primeira semana; 1.000 mg 2x/d durante a segunda semana; e 1.000 mg 1x/d durante a terceira semana após o nascimento (Seifi et al., 1996) e 1.000 mg 3x/d durante a primeira semana; 500 mg 3x/d durante a segunda semana; e 250 mg 3x/d durante a terceira semana (Sahinduran e Albay, 2004). Hemingway (1991) relatou tratamento bem-sucedido de diarreia neonatal em bezerros tratados com ácido ascórbico, conforme relatado por Seifi et al. (1996), exceto pelo fato de que 1.000 mg administrados 1x/d foram mantidos até que os animais estivessem ruminando.  

Pesquisas que suplementaram vitamina C geralmente utilizaram 3.000 mg/d durante a semana 1; 1.500 a 2.000 mg/d durante a semana 2; e 750 a 1.000 mg/d durante a semana 3. Eicher-Pruiett adicionou 10 g de vitamina C/kg de sucedâneo e alimentou o sucedâneo (13,5% de MS) a uma taxa de 10% do peso vivo. A ingestão de vitamina C nesse estudo excedeu 6 g/d, o que pode ser excessivo. A suplementação em taxa de 1 a 2 g por dia parece adequada para inclusão no sucedâneo ou em um suplemento de leite.

Resumo

A vitamina C é nutriente importante para a resposta imunológica neonatal e para a manutenção da saúde do bezerro. Embora a publicação da NASEM de 2021 não tenha recomendado a vitamina C nas dietas de bezerras em aleitamento, acredito que a vitamina C deva ser suplementada no leite ou sucedâneo para fornecer 1 a 2 g por dia. O benefício potencial para melhorar a saúde é significativo e o custo da suplementação é geralmente baixo. A suplementação em rações iniciais para bezerros é desnecessária, pois as bactérias ruminais são eficientes na degradação da vitamina C.  

Referências

Cummins, K. A. and C. J. Brunner. 1989. Dietary ascorbic acid and immune response in dairy calves. J. Dairy Sci. 72:129-134. https://doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(89)79088-3.

Eicher-Pruiett, S. D., J. L. Morrill, F. Blecha, J. J. Higgins, N. V. Anderson and P. G. Reddy. 1992. Neutrophil and lymphocyte response to supplementation with vitamins C and E in young calves. J. Dairy Sci. 75:1635-1642. https://doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(92)77920-X.

Hemingway, D. C. 1991. Vitamin C in the prevention of neonatal calf diarrhea. Can Vet J. 32:184. PMID: 17423762.

Lundquist, N. S., and P. H. Phillips. 1943. Certain dietary factors essential for the growing calf.  J. Dairy Sci. 26:1023-1030. https://doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(43)92802-4.

Matsui, T. 2012. Vitamin C nutrition in cattle. Asian Austral. J. Anim. Sci. 25:597-605. https://doi.org/10.5713/ajas.2012.r.01.

National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. 2021. Nutrient Requirements of Dairy Cattle: Eighth Revised Edition. Washington, DC: The National Academies Press.

Sahinduran, S. and M. K. Albay. 2004. Supplemental ascorbic acid and prevention of neonatal calf diarrhoea. Acta Vet. Brno 73:221-224.  https://doi.org/10.2754/avb200473020221. Seifi, H. A., M. R.

Mokhber Dezfuly, and M. Bolurchi. 1996. The effectiveness of ascorbic acid in the prevention of calf neonatal diarrhoea. J. Vet. Med. Series B 43:189-191. https://doi.org/10.1111/j.1439-0450.1996.tb00304.x.

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