Calf Note 188 – Dobrar o peso corporal ao nascimento – Quão realista?

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Autor: Jim Quigley

Traduzido por: Rafael Azevedo, Paula Tiveron e Sandra Gesteira Coelho

Introdução

Como seus bezerros estão crescendo? Uma questão realmente importante para qualquer produtor. A comparação do desempenho da fazenda com benchmarks do setor nos permite avaliar nosso programa e determinar se estamos fazendo um bom trabalho ou se precisamos fazer algumas alterações.

Um benchmarking de crescimento apropriado é que os bezerros devem dobrar seu peso corporal (PC) ao nascimento no desaleitamento. Essa métrica tem a vantagem de ser independente da raça utilizada e é fácil de lembrar e monitorar. Quando a Associação de Bezerras e Novilhas (DCHA) publicou seus primeiros “Padrões Ouro” para o manejo de bezerras, o objetivo importante era dobrar o PC ao nascimento aos 60 dias de idade. Desde então, muitas outras organizações adotaram essa meta, embora tenha mudado um pouco, para dobrar o PC ao nascimento com oito semanas de idade (56 dias). Embora a diferença entre 8 semanas e 2 meses possa parecer trivial, o ganho diário calculado necessário para atingir essa meta não é. Por exemplo, um bezerro pesando 42 kg ao nascimento para dobrar o seu PC em 60 dias requer ganho de peso diário de 42/60 = 700 g/d, enquanto um bezerro que duplica seu PC ao nascimento em 56 dias requer 42/56 = 750g/d.

Uma vez que muitos departamentos de extensão universitária, firmas comerciais, nutricionistas e veterinários, atualmente recomendam que seus produtores usem essa meta para seus bezerros, pode ser apropriado considerar se o objetivo está realmente sendo alcançado pelos produtores de bezerras. Como relativamente poucas fazendas realmente medem o peso vivo da bezerra ao nascimento ou aos 56 dias (e poucos desses dados são relatados), recorri à literatura científica para revisar estudos e ver o quão bem-sucedidos éramos como indústria para alcançar o alvo que recomendamos para nossos produtores.

A pesquisa

Estudos publicados que levantaram o peso dos bezerros desde o nascimento até os 56 dias, 60 dias ou 2 meses de idade foram avaliados. Para alguns estudos que relataram PC aos dois meses de idade, ajustei seu PC final em 56 dias usando os valores ganho médio diário (GMD) pré-desmame. Apenas estudos que relataram o início do PC foram utilizados.

Os estudos foram coletados de 25 diferentes experimentos publicados, representando 80 tratamentos individuais. Cada tratamento representou de 3 a mais de 20 bezerros/tratamento. Os tratamentos foram de estudos conduzidos principalmente em universidades e pesquisas comerciais que investigaram o volume de leite ou substituto do leite, forma e teor de nutrientes do concentrado, disponibilidade e tipo de forragem no sistema de dieta e instalação. Pouco desses estudos incluíram programas de alimentação líquida “acelerada”, em que os bezerros foram alimentados com leite para consumo a vontade ou alimentados com >1kg de sólidos de leite ou sucedâneo diariamente. Assumiu-se que todos os rebanhos eram bem gerenciados.

Algumas estatísticas descritivas para os tratamentos avaliados estão na Tabela 1. O PC final (aos 56 dias) teve média de 74,8 kg, o que levou a um ganho de 32 kg, ou 175% do peso ao nascer. Também podemos calcular isso como um múltiplo – ou 1,75x. Aumento de 1,75 x no PC do nascimento é bastante aceitável, mas não atinge a meta estabelecida pelas organizações profissionais e departamentos de extensão universitária para nossos produtores. 

É claro que alguns tratamentos experimentais podem ter sido organizados para não maximizar a taxa de crescimento, mas limitá-la. Às vezes, os pesquisadores vão intencionalmente testar maiores ou menores inclusão de um determinado alimento como meio de testar uma hipótese. Portanto, é possível que pelo menos algum desses tratamentos não tenham sido uma avaliação justa de nossa capacidade de dobrar o peso ao nascimento em 56 dias. Ao desenvolver a pesquisa, tentei incluir apenas os estudos que avaliaram os tratamentos nutricionais e não aqueles que limitaram intencionalmente a nutrição.

Apenas 5 dos 80 tratamentos foram capazes de duplicar o peso ao nascimento aos 56 dias de idade. Então, dobrar o PC ao nascimento em 56 dias parece ser uma meta ousada. Os cinco tratamentos estão resumidos abaixo.

Yavuz al. (2015) forneceram em média de 7,4L de leite integral pasteurizado por dia até o desaleitamento aos 56 dias. O experimento foi conduzido sob condição termonêutra. O colostro foi fornecido durante os dois primeiros dias e um concentrado de alta qualidade estava disponível durante o estudo. O peso corporal chegou a 79 kg aos 56 dias, aumento de 40,6 kg ou 2,05 vezes o peso ao nascer.

Moallem et al. (2010) alimentaram os bezerros com 9 L/d de leite integral e o peso ao nascimento dobrou em 56 dias. Curiosamente, quando os bezerros foram alimentados com 9 L/d de sucedâneo   do leite, os bezerros só alcançaram 1,9 x do PC ao nascimento em 56 dias.

Os três tratamentos finais foram realizados por Kmicikewycz et al (2013). Os tratamentos incluíram: 20% PB, 20% de gordura no sucedâneo fornecido a 640 g/dia em 42d; 26% de PB, 18% de gordura, fornecidos 880 g/d em 42d; e 26% de PB, 18% de gordura, fornecidos 870 g/d em 42 dias. Também foi fornecido concentrado texturizado com 18% de PB e água desde d1. Os bezerros nos três tratamentos dobraram seu PC ao nascimento em 56 dias e cerca de 33% do ganho de peso vivo após o desmame (d 42-56).

Não foi incluída na análise inicial a pesquisa publicada por Soberon et al. (2012), que vou agora considerar separadamente. Neste estudo, bezerros da fazenda da Universidade de Cornell foram alimentados com 1,5% do PC ao nascer (0,63 kg MS/dia) do 1º dia ao 7 º dia, e 2,0 a 2,5% (0,8 a 1,1 kg MS/dia) do PC ao nascer até 42 dias (15% MS). Os bezerros foram desaleitados aos 49 dias e alimentados 1x/dia de 42-49 d. O PC no desaleitamento (49 dias) foi 82 kg, ou 1,96x do PC ao nascimento. Embora esses autores não tenham relatado PC em 56 dias, podemos supor que, a menos que os bezerros não crescessem ou perdessem PC de 49 a 56 dias, teriam dobrado o PC ao nascer em 56 dias. Curiosamente, o ganho de PC relatado variou de 0,1 a 1,58 kg/dia e os autores atribuíram essa variação ao estresse por calor e frio e à variação da condição de colostragem dos bezerros. 

O segundo grupo para o qual os dados foram relatados por Soberon et al. (2012) envolveram uma fazenda de leite comercial que seguiu o protocolo de alimentação de 0,9 kg de sucedâneo de leite (28% PB/15% de gordura) de 7 dias até o desaleitamento por volta dos 49 dias de idade. Os dados sobre o crescimento até o desaleitamento são, de alguma forma, conflitantes no manuscrito. Contudo, os autores relataram que o PC ao desmame (cerca de 49 dias) foi de 84,1 kg, ou 1,98x PC ao nascer ou 0,74 kg/dia. No entanto, os autores também relataram que o GMD pré-desaleitamento = 0,66 kg/d. Os bezerros ao nascer pesavam 42,6 kg, assim, se os bezerros ganhassem 0,66 kg/dia até o desaleitamento aos 49 dias, então o PC ao desaleitamento seria de 74,9 kg, o que significa 1,76x PC ao nascer. 

Os autores relataram: “Na fazenda leiteira comercial, o GMD observado antes do desaleitamento foi semelhante na variação e a média foi de 0,66 ± 0,11 kg, variando de 0,32 a 1,27 kg. Esses dados provavelmente representam a realidade das taxas de crescimento observadas na maioria das fazendas, assumindo que as condições ambientais e os desafios de saúde dos bezerros são reflexo dessa variação”. Parece provável, então, que ao desaleitamento a taxa de GMD não permitiu que os bezerros dobrassem o PC ao nascimento em 56 dias.

A probabilidade de dobrar o peso ao nascer pode ser maior quando os bezerros são alimentados com programas de crescimento “acelerado”. Esses estudos foram avaliados separadamente. A Tabela 2 mostra os resultados de vários estudos de alimentação acelerada com leite. Mesmo quando grandes quantidades de leite ou sucedâneos de leite são fornecidos antes do desaleitamento, duplicar o PC do nascimento é um desafio mesmo para os melhores gerentes.

Resumo

Dobrar o PC ao nascimento antes do desaleitamento é um desafio. Poucos estudos na literatura científica documentam esse desempenho animal. O crescimento pré-desaleitamento tem sido atribuído à melhoria da produção de leite pós-parto, por isso é importante monitorar o crescimento. No entanto, esses dados sugerem que muitos fatores podem afetar o crescimento pré-desmame e simplesmente fornecer grandes quantidade de leite antes do desmame pode não atingir nossos objetivos.

Referências

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Kmicikewycz, A. D, D. N. L. da Silva , J. G. Linn , and N. B. Litherland. 2013. Effects of milk replacer program fed 2 or 4 times daily on nutrient intake and calf growth. J. Dairy Sci. 96:1125–1135.

Moallem, U., D. Werner, H. Lehrer, M. Zachut, L. Livshitz, S. Yakoby, and A. Shamay. 2010. Long-term effects of ad libitum whole milk prior to weaning and prepubertal protein supplementation on skeletal growth rate and first-lactation milk production. J. Dairy Sci. 93 :2639–2650.

Morrison, S. J., H. C. F. Wicks, A. F. Carson, R. J. Fallon, J. Twigge, D. J. Kilpatrick and S. Watson. 2012. The effect of calf nutrition on the performance of dairy herd replacements. Animal 6:909–919.

Raeth-Knight, M. L., H. Chester-Jones, S. Hayes, J. Linn, R. Larson, D. Ziegler, B. Ziegler, and N. Broadwater. 2009. Impact of conventional or intensive milk replacer programs on Holstein heifer performance through six months of age and during first lactation. J. Dairy Sci. 92:799–809.

Shamay, A., D. Werner, U. Moallem, H. Barash, and I. Bruckental. 2005. Effect of nursing management and skeletal size at weaning on puberty, skeletal growth rate, and milk production during first lactation of dairy heifers. J. Dairy Sci. 88:1460–1469.

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